segunda-feira, maio 09, 2011

Transparência

Obrigo-me a ler frases que matam para poder assistir da primeira fila ao horror do meu sofrimento e ao ridículo da minha existência. Rio de mim às gargalhadas. Masoquista? Não, difícil de vencer, assentando os pés na própria teimosia. Nem voltando atrás, nem com os erros, nem com as evidências do presente, aprendo. Refugio-me na minha serena ignorância, na podridão que me envolve e nos contactos fugazes com o mundo cuja presença procuro, sem fim, obstinadamente... Sem sucesso, ou melhor, sem real retorno. Mas o que sou eu? Será a doença que me consome contagiosa? Onde está o mundo? Onde estão vocês? Sussurro, chamo, grito e só me é devolvido o eco da minha própria voz. A solidão acende essas horrendas chamas em mim, mas o sopro da consciência, serena o lume, reduzindo-o a cinzas. Aconchego-me na dor e não vergo perante esse veneno, mas sinto que, mesmo assim, irremediavelmente, é perceptível. Sem antídoto, percorro as vielas da minha consciência e vou tragando, insaciável, algumas gotas da própria bílis.

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