domingo, fevereiro 20, 2011

Re-volta.

Imagina uma auto-estrada infindável; cair de pára-quedas em sítio nenhum; desaparecer num  redemoinho, entre as águas. Imagina ir para nunca mais voltar.
Só vamos porque sabemos que regressamos, mais cedo ou mais tarde, e o conforto do lar permite-nos desfrutar melhor da jornada.
Mas, quando não há retorno?  Renegamos as tabuletas das encruzilhadas, descrentes.
O deslumbramento que nos guiou afasta-nos ainda mais do escopo primordial e corremos, sabendo que já não há volta, só revolta.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Lose

Sem ceder às minhas exigências, continuo a avançar de um passo seguro, mas demasiado firme no passado; nego, recuso, ultrapasso e finalmente resigno-me a não ser o que sou, a esquecer-me de mim, a deixar passar os grãos de areia entre os meandros dessa prisão de vidro. E sobem pouco a pouco, apertam-me, pesam-me, oprimem-me... E ofegante, bato os pés no vazio e não volto à tona, sugada, engolida por essa substância delicadamente opaca. Solto uma mão, mas já vou tarde, consumiu-se o tempo, a última partícula cai e eu imóvel, sufoco, aceito, morro no tempo, findo em mim.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Silêncio

O pêndulo oscila secamente no vazio, um ruído perturbador, incessante que hipnotiza qualquer réstia de pensamento racional e me leva a divagar, a perder-me em mim. Aí não tento aclarar esse devaneio, nem pôr-lhe um freio, nem que seja um nome na face, e não existe, nada me ocorre, só um sopro de cores, um rodopiar de sensações, o triunfo do quase vazio...

Não pensar, seria a chave, o "supremo interdito", benefício alienado.

Há sempre esse pesar em mim, imóvel, estagnante, de atalaia, como as palavras escritas a tinta invisível que antes de viver jazem mortas, desejando transparecer e finalmente ganhar vida, imoladas pelas chamas, mais cedo ou tarde demais.

Equacionar a utopia de não pensar e deixar correr a lívida tinta...