terça-feira, novembro 30, 2010

Impasse?

A folha em branco não me amedronta porque nela, quase sem dar por nada, espalho lentamente a tinta da minha consciência, que goteja.  Então, entorno-a; derrama-se, escorre, esvazia-se, intermitente, convulsivamente,
E pinga cada gota de mim, derramando-se sobre o papel. Absorvida, seca e transforma-se na própria folha e eu, aclaro os pensamentos revoltos, sinto-os, desenterro-os, desenleio-os, cuspo-os, grito-os.
No fim, sussurro-os, silencio-os, inundo-os outra vez em mim.

terça-feira, novembro 23, 2010

Espelho

Afoga-se no sangue que lhe jorra das veias, boia, jaz morto, e lentamente, entranha-se na imensidão, emaranha-se na esperança que morreu, enleia-se, submisso, na solidão, dirige-se para o fim de tudo, mas já não teme. Depois, das trevas, erguer-se-á, como um funâmbulo louco e do seu sono sobejará como uma sombra uma silhueta amorfa e pálida, um abutre esfomeado, contando os segundos que faltam para a morte...

quarta-feira, novembro 10, 2010

Tudo ou nada?

Continuo nessa incerteza... Algumas coisas devem acabar por resolver-se por si só, outras, terei que as resolver eu, outras ainda, nem por isso... E uma delas, é a banda. Ninguém tem coragem de acabar, no entanto, encontra-se num estado vegetativo avançado. É deixar andar, deixar passar o tempo e ver o que acontece... Dizem que o tempo é bom conselheiro. Eu não acho, ajuda a aceitar o fim de algo, mas não minimiza a sensação de perda ou a mágoa. E aqui não falo só da banda... Lá estou eu outra vez... (Como se o motivo desta mensagem fosse a banda)...
Continuo nessa incerteza... Olho para a frente e esqueço as mágoas do passado e a incerteza do futuro, fingindo que tenho agora a vida toda pela frente, ou entrego-me à amargura? Parece-me que a escolha não é difícil, aliás, nem podia ser mais fácil. O problema é que, por um lado, a dificuldade não reside na escolha, mas sim na tomada de atitude e, por outro lado, não sei se deva continuar a iludir-me (já que ao que parece sou perita no assunto); não tenho a vida toda pela frente.
De qualquer dos modos, não tenho coragem para tomar qualquer atitude. Continuo a fechar-me em copas; também não vejo ninguém interessante e na verdade nem quero ver. Nunca fui tão casta...
Acobardo-me e ajo como se não soubesse o que é melhor para mim. Aí é que falho, desesperadamente. Continuo nessa incerteza...

domingo, novembro 07, 2010

Noite

Mais uma briga com o ex, a Elisa está a dormir, eu deveria estar a corrigir testes, mas em vez disso, aqui estou a escrever umas linhas, a tentar passar para este suporte virtual, uma mágoa real.

Começando pelo princípio, diria que tenho sofrido bastante ultimamente e não consigo extrapolar...
Creio que a culpa é minha, que tem que ver com a minha maneira de ser; o perdoar, o deixar andar, o fingir que está tudo bem e que sou imune a tudo e mais alguma coisa. Sou forte, não sabia que o era, pelo menos, não tanto. Sou demasiado benevolente e prezo acima de tudo a amizade, apesar de essa devoção nem sempre ser totalmente correspondida...
Entrego-me demais, sofro demais, abdico demais e acobardo-me atrás de sentimentos que disfarço de amizade. Queria levantar o véu, até deixá-lo voar, escapar-se para longe e gritar que não sou feliz e por que não o sou... Mas em vez disso, aqui estou e realizo que nem consigo passar o que sinto para o papel, não consigo dizê-lo, só consigo guardá-lo.
Nunca vou ser capaz de dizer-lhe nem de mostrar-lhe estas linhas. Mas para quê? Para que serviria expor-me dessa forma? Não mudaria nada certamente. Só sei que o que sinto é intenso; está ancorado em mim. Primeiro pensamento do dia e último da noite.
Esse sentimento espesso, quase viscoso que se agarra a mim, que não me deixa percorrer outro caminho, só me afasta de outras pessoas. Mas, na verdade, não quero mais ninguém, não estou preparada para mais ninguém, mas também não vou esperar, nem quero fazê-lo, não quero alimentar a esperança de poder senti-lo e tê-lo só para mim outra vez, mas iludo-me e espero. Acabo por esperar só porque não consigo não fazê-lo... E penso,  será que vai apaixonar-se por mim e aí caio em mim... Sei que não me ama.