terça-feira, maio 31, 2011

Scientia

Lentamente sobre mim, abrem-se as madeiras, roídas dos bichos, gastas, carcomidas pelo tempo, deslavadas, esfoladas pelos golpes impetuosos do vento e o branco da tinta que a reveste, lasca-se e esvoaça. Ressoa um guincho estridente de ferro velho, oxidado; melodia intermitente que me desperta da letargia. E ouço, sinto o vento no rosto, esboçando um sorriso gasto e adulterado. Cai vidro no chão e o que resta do mesmo não é mais que um conjunto incoerente de estilhaços brilhantes e pontiagudos. O vidro quebrado devolve-me um sorriso estranhamente redondo, aberto, dissonante. Aproximo-me e, num ímpeto desesperado, fecho o punho e desventro-lhe o sorriso. Escancaro as madeiras impulsivamente e num estrondo avassalador, deixo-me banhar pelos raios de um sol pálido e distante. Ao longe, ouço o som da vida, sinto a luz do mundo, ...ao longe, como o eco improvável de uma voz chamando por mim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Beau et noir... mais l'ouverture à la lumière rassure à la fin, c'est soi tu ouvres les volets, soit tu y restes ...

Bises ma belle.

Carla